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Diabetes: Mitos e Verdades

4 de junho de 2019 | escrito por

Texto originalmente publicado no portal eucauso.org

Os mitos estão sempre presentes no imaginário da população, especialmente quando se fala em problemas crônicos, como o diabetes. No entanto, a falta de orientação e informação correta pode levar a pessoa a cometer alguns enganos. Por isso, as dúvidas devem ser tiradas com médicos. Saber a verdade sobre o diabetes é fundamental para o bom controle da glicemia.

Ao receber o diagnóstico, a pessoa passa por uma série de mudanças e adaptações. Entre elas está o tratamento com insulina, que pode confundir caso não seja bem explicado. Apesar do maior acesso à informação científica que existe hoje, ainda são muitos os mitos relacionados ao diabetes e ao uso constante da insulina.

De acordo com a Dra. Denise Reis, endocrinologista e diretora científica da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), o excesso de informação imprecisa também pode atrapalhar a pessoa com diabetes. “Sempre há um parente ou um vizinho com uma fórmula mágica ou um chazinho que vai curar ou melhorar o diabetes. Não é incomum a pessoa com diabetes entrar no consultório perguntando se pode tomar um chá e tentar não usar a medicação, acreditando que a insulina vicia”, conta a médica.

A especialista esclarece que a aplicação de insulina não promove qualquer tipo de dependência química ou psíquica. O medicamento é importante para permitir a entrada da glicose na célula, tornando-se fonte de energia. E os chás não curam o diabetes.

A Dra. Denise explica ainda que os mitos em relação ao tratamento do diabetes mudam de acordo com a faixa etária das pessoas. “Os mais velhos trazem receitas de supostas formas de cura do diabetes, que ouviram há vários anos. Entre os adolescentes, há sempre a descrença de que algo poderá acontecer com eles ou a crença de que o tratamento com as células-tronco possibilitará a cura do diabetes, assim não precisarão mais se cuidar e ficarão livres das injeções.”

Para o Dr. Carlos Negrato, fundador, diretor e colaborador da Associação dos Diabéticos de Bauru, um dos mitos mais comuns é sobre o consumo de açúcar. “A pessoa pensa que desenvolveu diabetes porque comia muito açúcar. A questão é que a ingestão desse alimento em excesso pode levar ao aumento do peso, o que poderia, por fim, ser o fator causador do aparecimento da hiperglicemia”, relata.

Sobre esse mito, a Dra. Denise afirma que as pessoas acreditam que, evitando o açúcar, estariam também evitando o diabetes, sem saber que a doença está relacionada ao aumento do peso e ao sedentarismo, aliados à carga genética.

O consumo de carboidratos é outro item importante. Como a sua ingestão está diretamente ligada ao aumento da glicemia, algumas pessoas acham que se cortarem os carboidratos da dieta alimentar não precisarão aplicar a insulina.

“Esse nutriente eleva a glicemia com mais rapidez, por isso sua ingestão deve ser contada. No diabetes tipo 1, a pessoa necessariamente deve usar insulina diariamente. Portanto, mesmo que não coma carboidratos, precisará do medicamento. No caso do diabetes tipo 2, há uma dificuldade na ação da insulina (resistência à insulina) associada à redução de sua produção pelo pâncreas. Assim, o paciente com diabetes tipo 2 pode vir a precisar de insulina em algum período do tratamento mesmo que esteja controlando a ingestão de carboidratos”, informa a Dra. Denise.

Segundo o Dr. Negrato, é importante lembrar que a alimentação da pessoa com diabetes não é diferente da dieta das outras pessoas. “A comida que é saudável para quem tem diabetes também é saudável para quem não tem. Toda alimentação deve ser balanceada, com conteúdo adequado de carboidratos, proteínas e gorduras”, acrescenta o médico.

Além da qualidade da dieta, as pessoas com diabetes preocupam-se com o peso. Nesse sentido, a Dra. Denise diz que, quando o tratamento com insulina é introduzido, o paciente tende a ganhar peso, até para recuperar o que havia perdido. No entanto, se a pessoa começa a ingerir muitos doces junto à aplicação de insulina, pode mesmo vir a ganhar mais peso. É apenas uma questão de balancear a alimentação.

As bebidas alcoólicas são um capítulo à parte na rotina da pessoa com diabetes. O consumo é permitido, mas alguns cuidados devem ser tomados. “Quem tem diabetes pode, sim, tomar bebidas alcoólicas. Porém, e isso é indicado a todas as pessoas, de forma moderada e sempre junto a uma refeição, pois o álcool pode estimular o aparecimento da hipoglicemia ou dificultar a recuperação de uma crise hipoglicêmica”, orienta o Dr. Negrato.

“Ninguém deve consumir álcool em excesso. É importante que quem tem diabetes faça a monitorização da glicemia antes e depois de tomar bebidas alcoólicas. Devemos lembrar ainda que, no caso de pessoas com diabetes que têm comprometimento dos nervos, o álcool torna-se um componente a mais para a neuropatia, piorando o quadro”, ressalta a Dra. Denise.

Exercícios

A prática de exercícios físicos faz parte do tratamento. Entretanto, existe o mito de que quem tem diabetes deve fazer exercícios leves, por ser menos resistente. Com relação a esse tema, o Dr. Negrato relata que toda pessoa com diabetes deve ser estimulada a fazer atividades físicas o maior número de vezes possível, respeitando contra-indicações, se houver.

“Na verdade, quem tem diabetes deve evitar a prática de atividades físicas quando a glicemia estiver fora de controle: ou muito alta (maior que 250-300mg/dl), porque o nível pode aumentar ainda mais, ou quando houver hipoglicemia, pois ela também pode piorar. Com a glicemia normalizada, a pessoa deve ser orientada a retomar suas atividades rotineiras. De uma forma geral, as atividades melhoram os níveis glicêmicos, as doses de medicamentos orais e da insulina”, comenta o médico.

Sexualidade

A possibilidade de existir impotência sexual é uma das questões mais marcantes para os homens que têm diabetes, especialmente para os que usam insulina. De acordo com a Dra. Denise, embora a impotência seja uma complicação do diabetes, sua ocorrência não está ligada ao uso da insulina. Pelo contrário, a falta de tratamento adequado para a glicemia, o colesterol e a pressão alta acelera e aumenta a chance de seu aparecimento. “Muitas vezes, introduzindo a insulina e controlando a glicemia, conseguimos melhorar o quadro de impotência sexual”, declara.

A endocrinologista comenta ainda que, se a pessoa com diabetes estiver com a glicemia bem controlada, não sofre alteração de libido ou desejo sexual.

Outras complicações

As pessoas com diabetes acabam pensando que são propensas a todos os outros tipos de complicações. Quem tem diabetes precisa mesmo estar mais alerta, de olho nos problemas que podem surgir se a glicemia não estiver bem controlada, ou naqueles que podem aumentar a glicemia, como as infecções.

Segundo a Dra. Denise, quando a infecção se instala, qualquer organismo reage aumentando a produção de hormônios que elevam a glicemia, o que pode gerar uma dificuldade de ajuste do valor glicêmico e a necessidade do aumento da dose de insulina, para quem tem diabetes.

O diabetes também pode estar relacionado aos problemas de tireode. “Doenças auto-imunes, como o diabetes tipo 1, podem estar associadas a outras. Nesse caso, existe 25% de chance de a pessoa desenvolver problemas de tireode, como o hipotiroidismo e o hipertiroidismo. Por isso, checamos a tireode de quem tem diabetes tipo 1 uma vez por ano”, conta a especialista.

A cicatrização também está presente no imaginário da população. Boa parte das pessoas acredita que quem tem diabetes não cicatriza. Mas, de acordo com a Dra. Denise, isso só ocorre quando o paciente está descompensado e já tem comprometimento vascular e neurológico. “Paciente bem cuidado não deve levar esse mito em conta.”

De acordo com o Dr. Negrato, outra idéia errada sobre a doença é a de que o diabetes tipo 1 é mais grave do que o tipo 2. “Não existe uma relação de gravidade entre os dois tipos de diabetes. Na realidade, são situações diferentes, cada uma com suas características próprias, tendo em comum a presença da hiperglicemia”, informa.

Além disso, também não é correto acreditar que o diabetes tipo 1 atinge apenas jovens e, o diabetes tipo 2, apenas adultos. “O diabetes tipo 1, antigamente chamado de infanto-juvenil, ocorre, na maioria das vezes, em crianças e adolescentes, mas pode ocorrer também em adultos. Já o diabetes tipo 2 ocorre mormente em adultos, mas, ultimamente, está sendo cada vez mais diagnosticado em crianças e adolescentes, devido ao aumento da obesidade nesta faixa etária da população”, explica o Dr. Negrato.

O endocrinologista esclarece ainda que usar insulina não significa que o diabetes está mais grave, como pensam algumas pessoas. “Quem tem diabetes tipo 2 poderá, em determinado momento, ter que usar insulina em seu tratamento, devido a uma evolução natural do quadro, o que não significa agravamento”, pondera.

O relato dos médicos deixa claro que a informação é uma ferramenta essencial. A compreensão de limites e necessidades ajuda a pessoa com diabetes a melhorar o controle glicêmico e viver com muito mais possibilidades. Por isso, fuja dos mitos e procure estar sempre bem informado. Encare o tratamento de forma positiva e aproveite a vida com mais tranquilidade.

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