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Pode faltar insulina para diabéticos do mundo inteiro?
15 de fevereiro de 2019 | escrito por Diego Calheiros
O fenômeno tem sido chamado de flagelo da vida urbana: um estilo de vida não saudável e obesidade levaram a um ressurgimento da diabetes de tipo 2, que ocorre quando o corpo não consegue produzir insulina suficiente para regular os níveis de açúcar no sangue.
Agora
os cientistas afirmam que milhões de pessoas ao redor do mundo que têm
diabetes podem não conseguir acesso à insulina ao longo da próxima
década – e, talvez, por ainda mais tempo.
Cerca de 400 milhões de
pessoas entre 20 e 79 anos vivem com a diabetes de tipo 2, que é a forma
mais comum da doença. Mais da metade delas na China, na Índia e nos
Estados Unidos. Até 2030, acredita-se que os números ultrapassem 500
milhões. A outra forma da diabetes é a de tipo 1, na qual o corpo ataca
as células do pâncreas que produzem insulina.
Um novo
estudo publicado no periódico científico Lancet Diabetes and
Endocrinology afirma que aproximadamente 80 milhões de pessoas com
diabetes vão precisar de insulina até 2030. Mas cerca de metade delas –
possivelmente, a maioria na Ásia e na África – não conseguirá.
Atualmente, uma em cada duas pessoas com diabetes de tipo 2 não têm
acesso à insulina que precisam.
“O acesso (à insulina) é definido
como a combinação da disponibilidade do produto e se ele é acessível”,
afirmou o médico Sanjay Basu, da Universidade de Stanford, nos Estados
Unidos, que coordenou a pesquisa. “Além da questão dos preços, também
deve existir uma cadeia de abastecimento que consiga distribuir de forma
segura uma droga refrigerada e tudo aquilo que a acompanha – como
agulhas esterilizadas e seringas”.
Por que a insulina, um
medicamento que já existe há 97 anos e que já foi considerada uma das
drogas revolucionárias do século 20, continua a ser muito cara ao longo
dos anos?
Uma razão, dizem os cientistas, é que três empresas
multinacionais (Novo Nordisk, Eli Lilly and Company, Sanofi) controlam
96% do volume de insulina vendido no mundo e 99% do valor estimado de
vendas, de US$ 21 bilhões de dólares.
Controle global
Apesar
de mais de 90 países entre 132 não aplicarem tarifas para insulina, a
droga continua a ser muito cara para muitas pessoas.
Até nos Estados
Unidos, onde mais de 20 milhões de pessoas foram diagnosticadas com
diabetes, despesas pessoais com insulina aumentaram 89% entre 2000 e
2010. Inclusive entre adultos que têm plano de saúde. O preço do frasco
da droga subiu de US$ 40 para US$ 130 – cada frasco costuma durar por
algumas semanas. Também há considerações sobre a disponibilidade da
droga.
O controle global do mercado de insulina, de acordo com
David Henri Beran, dos Hospitais Universitários de Genebra e da
Universidade de Genebra, significa que os países têm poucas opções de
fornecedores. “Isso fez com que as pessoas tivessem que mudar o tipo de
insulina que tomavam porque as empresas retiraram os produtos do
mercado”.
Há diferentes tipos de insulina. E os médicos prescrevem o
tipo mais benéfico para cada paciente, dependendo de como respondem à
droga, o tipo de vida que levam, a idade, as metas de açúcar no sangue e
o número de injeções a serem tomadas por dia.
Diversos países
de renda baixa e média estão particularmente vulneráveis a quebra de
estoque. Um estudo sobre a disponibilidade de insulina descobriu que os
estoques estavam baixos em seis países – Brasil, Bangladesh, Malauí,
Nepal, Paquistão e Sri Lanka. Gestão precária e distribuição
insuficiente podem prejudicar o quadro – em Moçambique, por exemplo, 77%
do estoque total de insulina do país fica na capital, provocando falta
do medicamento em outras regiões.
“Em todo o mundo, problemas como a
disponibilidade do produto e se ele é acessível ameaçam a vida e
desafiam o direito à saúde”, falou Beran.
Então, por que uma
droga que foi descoberta há tanto tempo por cientistas da Universidade
Toronto ainda não está disponível como um genérico de baixo custo? (Os
cientistas venderam a patente para a universidade por US$ 1). Drogas de
alta demanda costumam se tornar mais acessíveis depois que suas patentes
expiram, graças a competidores baratos. Mas isso não ocorreu nesse
caso.
Uma razão, segundo os cientistas Jeremy A Greene e Kevin Riggs,
é que a insulina é mais complexa e difícil de copiar. E as fabricantes
de medicamentos genéricos consideraram que “não vale a pena”. Insulina
biosimilar, que é similar à insulina, também estão disponíveis no
mercado, com preços mais competitivos, mas fica aquém de uma versão
genérica.
Cientistas dizem que a insulina deveria ser
incluída em pacotes universais de cobertura de saúde e que doadores
globais deveriam alocar parte dos seus fundos em inovação na prestação
de cuidados de saúde e para a própria droga.
Claramente,
sistemas de saúde fracos, acesso precário a unidades de saúde, cuidados
de saúde com o diabético e o preço estão impedindo o acesso à insulina.
“Poucas
coisas precisam ocorrer, incluindo o preço e a infraestrutura de
distribuição”, explicou Basu. Até lá, a injeção de insulina não deve
ficar mais acessível.
O básico sobre as diabetes
– Há dois tipos principais de diabetes – tipo 1 e tipo 2. Também há diabetes gestacional, que pode aparecer durante a gravidez.
–
No tipo 1, que é tipicamente diagnosticado logo no começo da vida mas
que pode aparecer em qualquer idade, a insulina precisa ser injetada.
Não é prevenível nem curável e não é causada pelo estilo de vida.
–
As pessoas desenvolvem o tipo 2 quando a insulina que elas produzem não
está funcionando adequadamente, ou então quando não está sendo
produzido o suficiente. Pode estar relacionada à pessoa estar acima do
peso, inativa, ou também ao histórico familiar. É muito mais comum que o
tipo 1, respondendo por 90% de todas as pessoas com diabetes. Algumas
pessoas com tipo 2 tomam insulina, enquanto outras controlam o nível de
açúcar no sangue com medicamentos, exercício físico e uma dieta mais
saudável.
– Não controlar o nível de glicose no sangue no
longo prazo pode gerar complicações, como problemas nos nervos, rins,
olhos e pés, mas o risco pode ser reduzido com o tratamento e cuidado
corretos.
Fonte: BBC