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Diabetes na menopausa
4 de julho de 2019 | escrito por Diego Calheiros
Texto originalmente publicado em: eucauso.org.br
Encare a menopausa com tranquilidade
A menopausa é uma daquelas fases em que muda tudo na vida de uma mulher. Entre os 45 e os 55 anos de idade o organismo feminino termina seu ciclo reprodutivo e surgem as alterações hormonais, bioquímicas e emocionais. Junto com elas aparecem alguns sintomas como calores, alterações do sono, do humor, da libido e do colesterol.
Objetivamente a menopausa significa o fim da menstruação, que pode ocorrer de forma abrupta, ou seja, cessar de uma vez, ou de maneira gradual, com irregularidades de sangramento até o término total da menstruação. O processo varia de mulher para mulher, inclusive no que diz respeito aos sintomas. Algumas mulheres passam pela menopausa sem sentir nada.
“A idade modifica o corpo feminino. O ganho de peso é quase inevitável, e o aparecimento das rugas é acelerado. Essas alterações causam repercussões psíquicas, que talvez sejam as mais importantes nesta fase. Muitas vezes a aposentadoria do companheiro, as dificuldades profissionais ou filhos saindo de casa também contribuem para as alterações emocionais da menopausa”, argumenta o Dr. Mauro Sancovski, ginecologista e obstetra, professor da Faculdade de Medicina do ABC.
O médico explica ainda que o estrogênio é o hormônio básico da mulher, e que ele atua ciclicamente até a menopausa. Portanto, sua falta pode causar as ondas de calor, em 75% a 80% das mulheres. “O estrogênio também é responsável pela textura da pele e pela distribuição da gordura no corpo. Sua falta causa diminuição do brilho da pele e uma distribuição de gordura nos moldes masculinos (na barriga), além de secura vaginal, que pode afetar o desejo sexual, transformando as relações em algo desagradável e doloroso.”
De acordo com o Dr. Ricardo Meirelles, professor associado de Endocrinologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e diretor do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Rio de Janeiro, nas mulheres com Diabetes a menopausa pode ocorrer mais cedo e os casos de menopausa precoce tornam-se mais frequentes.
O médico conta que na maioria das mulheres não existem alterações importantes da glicemia ao longo dos ciclos menstruais. Mas, com a menopausa, o problema da resistência a insulina piora, porque os ovários param de produzir estrogênios. “O controle do Diabetes pode ficar mais difícil nesse período, por isso é importante que a monitorização da glicemia seja feita com frequência, possibilitando assim o ajuste das doses de insulina ou de medicamentos via oral, quando necessário.”
Para o Dr. Malcom Montgomery, ginecologista e obstetra, autor de diversos livros e palestrante, na menopausa o Diabetes muda. “A menopausa é uma situação clínica que atua em todos os sistemas orgânicos da mulher, interferindo na parte vascular. Nas mulheres com Diabetes, a menopausa tem que ser mais vigiada, as glândulas devem ser mantidas sob controle”, comenta.
Além disso, o Dr. Meirelles ressalta que as mulheres que têm Diabetes e estão na pós-menopausa devem ficar atentas, pois nesta fase pode haver aumento do risco da doença coronariana e da hipertensão arterial.
Nesse sentido, o Dr. Montgomery enfatiza que as mulheres com Diabetes devem ser constantemente supervisionadas. “O médico deve estar atento aos dois fatores: Diabetes e menopausa, pedindo exames com mais frequência, especialmente em mulheres que dependem de insulina.”
Outras alterações importantes na saúde da mulher, que costumam ocorrer em decorrência da menopausa, são a irritabilidade, a depressão e a osteoporose. “O estrogênio está associado a sentimentos de auto-estima e a falta dele pode causar depressão em graus variados. A fixação do cálcio nos ossos também fica a cargo do estrogênio. Após a menopausa, grande parte das mulheres passa a perder o cálcio dos ossos, podendo caminhar para a osteoporose. Estudos recentes associam também a falta de estrogênio à doença de Alzheimer”, declara o Dr. Sancovski.
É importante lembrar que a vida sedentária, o estresse e o tabagismo por si só são fatores de risco cardiovascular, que quando associados ao Diabetes agravam o prognóstico da mulher. “É fundamental diminuir os fatores de risco e manter o Diabetes bem compensado. Assim, as mulheres com Diabetes podem ficar em igualdade de riscos com as pessoas que não têm. A mulher que tem Diabetes e outras patologias deve ser avaliada periodicamente pelo ginecologista, até mesmo para que possa ser orientada, tendo uma evolução ginecológica normal”, orienta o Dr. Sancovski.
Rotina básica
A melhor maneira de garantir uma vida saudável é conservar bons hábitos. Dieta equilibrada, atividade física e lazer devem estar associados à prevenção de determinadas doenças, tais como câncer de mama e o câncer de colo de útero, que se diagnosticadas precocemente possibilitam a cura. De acordo com o Dr. Sancovski, a consulta periódica ao ginecologista tem esta missão. “Hoje a medicina é preventiva. Temos uma visão mais ampla e podemos orientar a mulher em relação ao que pode protegê-la. A mulher deve começar a visitar o ginecologista na puberdade para ser orientada. Aos 35 anos de idade devem começar os exames preventivos, principalmente quando já existe o Diabetes”, afirma o Dr. Montgomery.
Uma escolha pode dar certo
Com a chegada da menopausa a mulher pode vivenciar uma série de alterações nem sempre agradáveis. Segundo o Dr. Montgomery, a boa notícia é que existe escolha. A terapia de reposição hormonal (TRH) ou apenas terapia hormonal é uma maneira de repor no organismo os hormônios que o ovário deixa de produzir. A vantagem é que a terapia hormonal elimina os sintomas da menopausa, garantindo a vitalidade. A desvantagem é o risco de câncer, que deve ser avaliado.
“Basicamente o hormônio usado na reposição é o estrogênio (produzido na primeira fase do ciclo menstrual, responsável pela ovulação). A falta do estrogênio determina a maioria das queixas da menopausa, e a sua reposição minimiza os sintomas e previne as complicações. Entretanto, repor apenas o estrogênio pode, em alguns casos, levar ao aumento do endométrio (tecido que reveste o útero) e até mesmo ao aparecimento de câncer do útero. Por isso, às vezes, o estrogênio deve ser associado ao progestagênio (hormônio feminino liberado após a ovulação, que prepara o organismo para uma possível gravidez)”, relata o Dr. Sancovski.
O médico afirma que em função deste controle, é fundamental que as mulheres em tratamento hormonal estejam em constante acompanhamento médico, ponderando as doses dos hormônios. “Devemos esclarecer que os benefícios da reposição hormonal são muito grandes. Há melhora da qualidade de vida, os sintomas são minimizados e as complicações imediatas e em longo prazo são prevenidas.”
Para iniciar a terapia hormonal a mulher, junto com o ginecologista, deve fazer uma avaliação de suas condições hormonais, clínicas, fatores de riscos, qualidade de vida e desejos. Só assim deve considerar a necessidade da reposição, que começa quando aparecerem os primeiros sintomas da menopausa. A mulher pode escolher também a via que prefere utilizar, como comprimidos, implante, creme e adesivos para pele.
No caso das mulheres com Diabetes, a escolha da terapia hormonal também é possível. Segundo o Dr. Meirelles, nas mulheres com Diabetes a reposição deve ser feita com estrogênios administrados por uma via não-oral, como adesivos, gel ou spraynasal.
“Devem ser utilizadas as menores doses de hormônios capazes de eliminar os sintomas da menopausa. Hormônios masculinos, como a testosterona, devem ser evitados na mulher com Diabetes, porque existe um risco de que contribuam para piora do quadro metabólico e do risco cardiovascular. O progestágeno, que deve ser sempre prescrito para mulheres que não sofreram retirada cirúrgica do útero, deve ser a própria progesterona natural ou os mais semelhantes a ela. Os derivados de androgênios e aqueles com efeitos semelhantes aos corticóides não devem ser usados. Muitos trabalhos mostram que a terapia de reposição hormonal se associa a melhor controle do Diabetes na mulher na pós-menopausa.”
Apesar das transformações, a menopausa pode significar o começo de uma vida plena. O Dr. Montgomery diz que nesta fase o importante é resolver o que incomoda e seguir em frente. “As alterações orgânicas podem ser recuperadas, mas o tempo não. A menopausa é uma oportunidade para a mulher reformular seu estilo de vida.”
Já o Dr. Sancovski vê a menopausa como uma fase natural da vida. Seu conselho é que a mulher amplie o círculo de amizades, tenha hábitos saudáveis, reestruture a vida familiar e conjugal e encare a vida positivamente. “O mais importante é tentar viver a meia-idade intensamente, permitindo-se enxergar e desfrutar a vida com todo o seu colorido.”