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Pesquisas indicam relação entre cáries e diabetes
26 de setembro de 2019 | escrito por Diego Calheiros
Nas manhãs de quarta-feira, a clínica de Odontologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB) recebe pacientes que, além do tratamento dentário, fazem acompanhamento do diabetes. A relação da doença endocrinológica com problemas bucais é uma das mais bem-estabelecidas em pesquisas que investigam o impacto da periodontite e das cáries no organismo como um todo e vem sendo estudada há mais de meio século. O Projeto Diabetes, iniciado em 2005, não apenas presta um serviço clínico à população, mas tem ajudado a entender melhor os mecanismos por trás dessa associação e já resultou em artigos publicados em revistas científicas internacionais.
Um dos estudos que deve ser divulgado em breve em uma revista internacional investiga os níveis de citocinas inflamatórias em diabéticos com doença periodontal. A pesquisa, da aluna de mestrado Mariana Caldas de Oliveira Mattos, avalia os marcadores de inflamação na saliva e no plasma dos pacientes. “A periodontite é a sexta maior complicação do diabetes. Já se sabe que a melhora do controle glicêmico também melhora a doença periodontal, mas queremos ver o inverso”, explica a estudante da pós-graduação. “A ideia é descobrir se o tratamento periodontal consegue melhorar o controle glicêmico”, diz.
A pesquisa envolve 47 pessoas, divididas em quatro grupos: saudáveis (para comparação), pacientes só com diabetes, pacientes só com periodontite e aqueles com ambas as condições. Exames de sangue e saliva que serão avaliados por uma equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de Janeiro permitirão descobrir se a redução das inflamações características da doença bucal terão impacto sobre as taxas de glicemia das pessoas com diabetes
De acordo com um artigo da Associação Dental Norte-Americana, estudos internacionais realizados nos últimos 50 anos indicam que o risco de desenvolver cárie, gengivite e periodontite é maior em pacientes com diabetes que têm controle glicêmico pobre; aqueles que fazem um manejo adequado da doença apresentam menos problemas bucais. A Terceira Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos, que incluiu milhares de pessoas, mostrou que diabéticos com taxas descontroladas têm até três vezes mais periodontite, comparados aos que mantêm os níveis adequados e às pessoas saudáveis. O controle pobre da glicemia também elevou a probabilidade de perda dental progressiva e destruição do osso alveolar, que dá sustentação à dentição.
Ozonioterapia
Há diversos mecanismos que podem explicar a associação. Tanto a periodontite quanto o diabetes, especialmente do tipo 2, têm importantes componentes inflamatórios. No geral, a doença periodontal eleva níveis de citocinas pró-inflamatórias, uma resposta do corpo para combater infecções, o que pode aumentar a resistência à insulina em pacientes de diabetes, cujas células do sistema imunológico já exacerbam a produção dessas substâncias. Isso poderia explicar por que pessoas com diabetes e periodontite têm maior dificuldade de controlar o índice glicêmico, comparadas àquelas que têm a doença endocrinológica, mas estão com a saúde oral em dia. “O controle glicêmico não depende apenas do tratamento bucal, mas percebemos a importância do tratamento como uma forma de melhorar a saúde do paciente e elaborar outras estratégias terapêuticas”, explica a periodontista Daniela Corrêa Grisi, voluntária no projeto do HUB.
Também está em curso no hospital universitário um estudo que avalia os aspectos microbiológicos dos pacientes de diabetes e doença periodontal, com objetivo de verificar se há diferenças na microbiota de pessoas que têm as duas condições, comparado a indivíduos saudáveis (Leia amanhã sobre microbiota e periodontite). Outra pesquisa avalia o impacto da ozonioterapia — técnica que emprega oxigênio e ozônio para modulação do estresse oxidativo e combate a inflamações — no controle glicêmico e na doença periodontal. “Pacientes com diabetes não têm muita resposta ao tratamento não cirúrgico da periodontia. Queremos verificar se, como adjuvante, a ozonioterapia pode impactar no resultado”, diz a periodontista Elisa Grillo, que conduz esse estudo no HUB.
Fonte: Correio Braziliense