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Pré-diabetes: última chance para evitar que a doença se instale
20 de agosto de 2019 | escrito por Diego Calheiros
A maioria das doenças crônicas é silenciosa. Sem aviso, dores ou erupções cutâneas, vão se instalando no corpo até que, quando são descobertas, já estão instaladas. Imagine ter um alarme para detectar a chegada de uma enfermidade séria e sem cura, como o diabetes? Isso existe.
No Brasil, pelo menos 13 milhões de pessoas têm diabetes diagnosticado e outros 14 milhões de adultos têm a chamada pré-diabetes, segundo dados da International Diabetes Federation, um dos órgãos internacionais mais importantes sobre a doença. Ao contrário de quem tem a condição, o paciente que está neste grupo de risco ainda tem chances de reverter o quadro — mudando radicalmente o estilo de vida, ou com o uso de medicamentos, 50% dos pacientes conseguem evitar a doença.
“É uma classificação que tem sido usada há algum tempo. É um pouco controversa, há profissionais que não aceitam o termo, mas a maioria dos médicos está inclinado a usá-lo”, explica a endocrinologista Patrícia Brunck, do hospital Santa Lúcia. “A intenção não é assustar, mas ainda não temos um nome mais adequado. Apesar do termo não ser ideal, não encontramos uma forma melhor de avisar que o risco está aumentando”, diz Bianca de Almeida Pititto, coordenadora do departamento de epidemiologia, saúde pública e economia em saúde da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Pessoas com pré-diabetes, segundo Bianca, têm um risco aumentado de doenças cardiovasculares, aterosclerose, infarto, AVC e complicações nos olhos, além de pequenas alterações nos vasos e artérias que, ainda de forma precoce, podem levar a doenças sérias no futuro. “A glicemia aumentada altera diversos marcadores de inflamação na camada mais interna das artérias, onde são liberadas substâncias responsáveis por manter o vaso saudável, controlar contração e dilatação, coagulação, etc. Uma artéria com problemas pode fazer parte de um quadro de saúde maior”, alerta. O grupo de risco de diabetes tipo 2 (e, consequentemente, da pré-diabetes) é de pessoas obesas, com mais de 45 anos, que têm colesterol e pressão altos, ou familiares com a doença, entre outros.
É possível descobrir a condição a partir de exames de rotina (por isso, é importante fazer check-up anualmente), como a hemoglobina glicosilada e a glicemia em jejum e a curva glicêmica, que é feita para confirmar as suspeitas. “É uma questão de tempo para evoluir, o diabetes é uma doença progressiva. Durante o pré-diabetes as células do pâncreas que produzem insulina já estão morrendo”, completa.
Porém, apesar de ter relação direta com problemas cardíacos, de circulação e poder levar à morte, um quarto dos 1.050 entrevistados por uma pesquisa coordenada pela Abril Inteligência em parceria com a AstraZeneca e o Endodebate em 2018 não vê o diabetes como uma doença perigosa e que oferece risco de vida. Metade dos participantes diagnosticados acredita, inclusive, que o diabetes é hereditário, e 35% acha que a situação emocional do paciente é o que leva ao desenvolvimento da condição, o que não é verdade.
Solução está no estilo de vida
A
pré-diabetes não é exatamente uma doença, mas um rótulo. Estar com a
condição é um sinal de que o paciente está risco aumentado de
desenvolver o diabetes e que algumas alterações metabólicas indesejadas já começaram,
mas ainda há tempo para prevenção. Com um programa de controle de peso,
dieta saudável e atividade física é possível prevenir ou, pelo menos,
postergar a evolução do diabetes.
“Se o paciente conseguir perder de 5 a 7% do seu peso, tiver uma alimentação rica em frutas e legumes, com pouca gordura, e fizer pelo menos 150 minutos de atividade física por semana, ele consegue reduzir em até 58% o risco de se tornar diabético nos próximos cinco anos. É uma redução importante. Quando se compara com a medicação mais usada, a metformina, a redução é de cerca de 30%”, conta Bianca.
Mas, se a pessoa que teve pré-diabetes deixar a dieta depois de emagrecer, provavelmente vai voltar para a condição. Segundo a coordenadora da SBD, alguns estudos de prevenção que acompanharam pessoas que tiveram pré-diabetes há 20 anos e passaram quatro anos controlando rigorosamente a rotina tiveram um benefício que se propagou por, pelo menos, 15 anos.
Este vai-e-volta é comum. Aos 21 anos de idade, a cientista política Fernanda Reis procurou um nutrólogo por estar acima do peso e descobriu, depois de uma série de exames, que estava com pré-diabetes. “Eu fiquei assustada, a minha avó tinha diabetes e acabou falecendo em decorrência da doença”, lembra. Fernanda não quis tomar remédios e foi encaminhada para um nutricionista.
Passou seis meses sem comer açúcar, carboidratos simples e até algumas frutas, além de colocar o exercício físico na rotina. Emagreceu 12 quilos, refez os exames e descobriu estar novamente fora de risco. Porém, sem alerta do médico de que a condição podia voltar e que era preciso ficar atenta ao prato pelo resto da vida, a cientista política foi, aos poucos, voltando para o estilo de vida anterior.
Apesar de não tomar mais refrigerante, sucos industrializados, não ter o costume de colocar açúcar em bebidas e comidas, além de se alimentar bem, com bastante salada e frutas, Fernanda gosta de massa e risoto, participa de jantares e eventos, e acabou engordando novamente. Hoje, aos 24, descobriu que está pré-diabética mais uma vez.
“Cortei drasticamente os carboidratos e estou fazendo exercício cinco vezes na semana. Devo fazer o exame em breve para saber se estou saudável. Enquanto eu conseguir manter esse novo estilo de vida, sei que estarei bem”, afirma.
O que é diabetes?
- O diabetes é uma doença crônica que acontece quando o corpo não consegue produzir ou utilizar com sucesso a insulina, hormônio responsável por controlar a glicose no sangue.
- Existem dois tipos de diabetes, o tipo 1 (quando o sistema imunológico ataca as células responsáveis por produzir insulina, aparece na infância ou adolescência e é responsável por 5% a 10% dos casos) e o tipo 2 (nesta situação, o organismo não consegue usar a insulina ou produzi-la o suficiente. Ocorre normalmente em pessoas obesas e com mais de 40 anos, mas vem se tornando popular entre jovens).
- Outra variação da doença é o diabetes gestacional, que pode acontecer durante a gravidez. A placenta possui hormônios que reduzem a ação da insulina e, por isso, o pâncreas precisa aumentar a produção da substância. Quando isso não ocorre, sobem os níveis de glicose no sangue e o bebê pode ter um crescimento excessivo, resultando possivelmente em hipoglicemia neonatal, obesidade e diabetes na vida adulta.
Fonte: Metrópoles